Hospital Sugisawa implanta musicoterapia e leva mais humanização à UTI

Suporte emocional por meio da música tem ajudado pacientes a atravessarem com mais serenidade o processo de internação e tratamento

Legenda: Rosane estava na UTI e com a possibilidade de fazer outra cirurgia. Com a musicoterapia, conseguiu se tranquilizar e relaxar, o que a ajudou na melhora do quadro clínico. (Crédito: Divulgação / Hospital Sugisawa)

O Hospital Sugisawa, em Curitiba, adotou uma prática individualizada que tem trazido resultados positivos para pacientes que estão na UTI: a musicoterapia. O atendimento com a musicoterapia não é uma técnica nova –  pelo contrário, ela gerou por muito tempo fascinação e foi somente a partir do século XX que investigações mais científicas puderam ser feitas a respeito do seu potencial terapêutico. No entanto, o trabalho com música realizado em UTI, tem sido um diferencial na melhora de pacientes internados no Hospital Sugisawa, que possui um profissional musicoterapeuta  para atuar, exclusivamente dentro da UTI.

Rosane Sutil de Oliveira, de 45 anos, é um desses casos. Após passar 44 dias internada, sete deles na UTI, ela experimentou um dos momentos mais críticos de sua vida. “A música chegou num momento muito difícil da minha saúde. Eu estava na UTI, diante de uma crise emocional muito forte, porque havia a possibilidade de eu ter que voltar para a mesa de cirurgia”, disse ela, contando que das três crises que teve no sistema digestivo, aquela tinha sido a mais forte e mais grave.

Rosane ouviu uma música no corredor da UTI e ficou curiosa. “Perguntei o que era. Me explicaram e a musicoterapeuta veio até mim. E eu disse a ela: ‘Não sei se é bom ou ruim você estar aqui’.” Apesar de não cantar, Rosane sempre teve a música presente em sua vida e sua casa, principalmente através de seu pai, que tocava acordeon. Ela conta que escolheu a música “Nossa Senhora”, de Roberto Carlos. “Eu chorei muito, porque se a medicação que eu estava tomando não funcionasse, eu ia ter que voltar para o centro cirúrgico. E eu não queria. Não ia aguentar ter que passar por tudo aquilo de novo.” 

A música trouxe um alívio inesperado. “Ouvindo a canção eu acabei sorrindo e relaxando. E esse relaxamento que meu organismo conseguiu foi crucial para eu não precisar mais da cirurgia. Meu corpo conseguiu reagir”, emociona-se a paciente. 

No dia seguinte, Rosane deixou a UTI e foi para o quarto. “Veja como é algo que você nem imagina, que a música pode mobilizar e auxiliar na modificação do quadro clínico. Eu estava no fundo do poço, muito abalada, sentia uma tristeza profunda, porque tudo estava dando errado. Minha pressão subiu. Eu nunca pensei que a música pudesse me ajudar, não só emocionalmente, mas fisicamente”, disse ela emocionada. Após os mais de 40 dias de internamento, 8 em home care, ela recebeu alta.

O papel da musicoterapia

A musicoterapeuta responsável por essa mobilização é Claudimara Zanchetta, especialista em psicologia corporal e gerontologia clínica e social (estudo do envelhecimento). A especialista explica que a musicoterapia, reconhecida como profissão desde 1970, agora em processo de regulamentacão, exige formação específica para atuar. “Não basta somente tocar um instrumento. Para atuar com pacientes, em ambiente hospitalar, é obrigatória a formação em musicoterapia”, destaca.

A musicoterapia é diferente de outras ações feitas em hospitais, onde músicos ou voluntários cantam o seu repertório no corredor, como forma de promover uma estimulação sonora coletiva e movimentar a energia do ambiente. A  musicoterapia promove um atendimento individualizado e personalizado a cada paciente, com intuito de melhorar a qualidade do internamento. 

“Vejo a melhora do humor, da expressão facial, da respiração, do estresse, principalmente quando você toca exatamente a música que tem a ver com a história dessa pessoa. Eles ficam mais calmos e resilientes ao tratamento. A musicoterapia trabalha a biografia musical do paciente. “Não sou eu que escolho as músicas. É o paciente que vai escolher o que mexe com ele e eu executo”, explica Claudimara.

Vários instrumentos podem ser utilizados na terapia. E Claudimara se alegra ao ver que seus atendimentos, mobilizam os pacientes e estimulam uma melhor qualidade de trabalho para a equipe multiprofissional dentro da UTI, contando que em alguns momentos forma-se um grande coral até com coreografia.

Impacto na UTI

A enfermeira Angelis Força, coordenadora  da UTI do Hospital Sugisawa, relata que a Unidade de Terapia Intensiva é comumente pensada como um espaço de adoecimento, incertezas e tensão. Os pacientes sentem medos, angústias, ficam fragilizados emocionalmente. E dentro desse contexto, há alguns pacientes que recebem a musicoterapia por estarem emocionalmente abalados; em despertar de uma sedação; durante um desmame de ventilação mecânica; ou tempo longo de internação na UTI, por exemplo.

A música acaba proporcionando relaxamento, conforto e alívio do estresse, beneficiando tanto pacientes quanto seus familiares, que saem da visita hospitalar mais tranquilos em relação ao quadro de saúde do internado. E mesmo que o paciente saia da UTI, explica Angelis, a musicoterapeuta o acompanha no quarto, proporcionando a continuidade do atendimento humanizado que  a equipe multiprofissional promove durante toda a estadia do paciente no hospital.

“Com a musicoterapia, nossos pacientes passam pela experiência de ouvir não somente os sons comuns dos equipamentos da UTI,  mas passam a nos comunicar de outras formas, com repertórios individualizados que tocam o coração de cada um”, diz a enfermeira-chefe.

Legenda: Leony, 94 anos, que vinha de uma infecção severa, ficou mais relaxada com a musicoterapia e saiu de um quadro de agitação que não ajudava em sua melhora. (Crédito: Divulgação / Hospital Sugisawa)

Melhora emocionante

Dona Leony Malinowski, de 94 anos, ficou quase três meses internada no Hospital Sugisawa devido a uma pneumonia por broncoaspiração. Seu quadro piorou, ela precisou colocar algumas sondas. Sua cuidadora, Lucia Pedral Sampaio Cunha, conta como a musicoterapia foi essencial.

“Ela teve uma infecção por superbactéria e começou a delirar e ficar muito agitada. Queria arrancar sondas, acessos e sair da cama, falava a todo instante, chamando enfermeiros e reclamando. Até me expulsou do hospital. A musicoterapeuta chegava e falava com ela: ‘posso cantar pra senhora um pouco?’. A dona Leony parava e prestava atenção. Eu vi um bom retorno dela, porque a Leony interagia com musicoterapia”, contou a cuidadora.

Lúcia relata que a música ajudou a acalmar a paciente, evitando a necessidade de contenção. Na primeira vez que recebeu a terapia, a equipe de enfermagem já estava preparada para restringir alguns movimentos da idosa, logo que a musicoterapeuta saísse da sala. Mas para surpresa de todos, a paciente se acalmou e não foi necessário. Passou a ficar mais serena, assistindo TV. Aceitou o internamento e os tratamentos.

“A nora contou que era casada com o filho da Leony há 50 anos e nunca tinha visto a sogra cantar. Foi a primeira vez”, relata Lúcia, contando que a idosa pedia à musicoterapeuta para cantar valsas e músicas sertanejas antigas.

Resultados extraordinários

José Alfredo Sadowski, diretor geral do Hospital Sugisawa, enfatiza os resultados positivos da musicoterapia. “Recebemos um pedido para testar a musicoterapia e permitimos que a equipe fizesse esse trabalho por um mês. O que não esperávamos eram resultados tão significativos. Dentro da nossa missão, de levar um atendimento o mais humanizado possível, não pensamos duas vezes em disponibilizar esse estímulo de forma definitiva no hospital”, falou o diretor, comemorando o bem-estar que a decisão trouxe aos pacientes, familiares e equipes de saúde.

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